desespero...

desespero...
Aqui do outro lado tudo parece obscuro, mas eu ainda tenho esperancas de morrer...

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Contos oniricos, edição dia das bruxas.

What's my name


Pleased to meet you
Hope you guess my name, oh yeah
Ah, what's puzzling you
Is the nature of my game, oh yeah
Sympathy For The Devil, The Rolling Stones



 

O prostíbulo era o ultimo porto antes de Calecute, na índia, os marujos estavam cansados e mais do que mereciam relaxar.

A cafetina, Lhasa, era minha amiga a anos, havíamos nos conhecido no sul de paris, alguns anos antes da marinha me chamar para assumir o galeão "capitão do mato". Em uma noite de esbórnia no chalé do mar, como era conhecido o bordel, que tudo aconteceu.
Uma noite escura de fins de outubro, o mar revirava alto com fúria, e a escuridão era quase pegajosa, os marujos bebiam e cantavam no salão, lá fora todos os maus agouros uivavam noite adentro. Lembro me de comentar com Lhasa a respeito e ela dar de ombros e responder: " as vezes os espíritos caminhavam sobre a terra para rever seus velhos amigos e parentes, e, algumas dessas vezes, os demônios os acompanhavam". Me subiram calafrios como se enfrentasse o mar mais revolto já visto no cabo das tormentas.


A noite seguiu densa e arredia. Decidi não dormir e rever roda a segurança do "Capitão". Cada madeira, cada cravo, cada corda, cada um dos itens rangiam e gemiam alto como se chorassem. Todo o navio era uma sinfonia macabra que fazia os seguranças de guarda temerem por suas almas. Um deles devoto fiel de alguma religião antiga implorava para que zarpássemos o mais rápido possível, neguei seu pedido de imediato, ele fugiu como se o próprio Cerberus estivesse em seu encalço. Nunca mais o vi, aliás, nunca mais vi nenhum dos marujos, mau sabia eu que aquela seria nossa ultima noite.

Enquanto adormeci em meus aposentos, depois de pesadelos mórbidos, acordei com a gritaria. O que eu vi me arrepiou cada um dos pelos do corpo. Todo o bordel estava em chamas, tudo queimava como se houvesse algum combustível inflamável espalhado, dava pra sentir o calor do navio.
Corri como se minha própria vida dependesse daquilo. Minhas narinas se enchiam com o cheiro da carne queimada e meus ouvidos tiniam com gritos de horror daqueles que cozinharam vivos. Todo o lugar parecia um afresco de Doré para a divina comédia: corpos misturados as cinzas, mulheres correndo nuas enquanto arrancavam suas peles em chamas numa tentativa pífia de sobreviver, soldados choravam enquanto morriam lentamente queimados. Como uma ironia acendo um cigarro nas labaredas que davam em uma viga de madeira logo a minha frente. Lhasa estava em choque, havia se queimado, mas nada que a fizesse acordar do que parecia ser seu pior pesadelo.
Então todo o lugar começou a desabar, primeiro o telhado do segundo andar, logo após algumas vigas de sustentação, e por fim tudo veio a baixo. 

A minha frente uma meretriz morta sobre os escombros, dava a luz a sua cria que já nascera queimada, a criança, se é que se poderia chamar assim a criatura que saia daquele ventre pútrido, chorava por sua mãe que não poderia responder mais. Em meio a esse caos uma gargalhada emergia do meio dos escombros. Primeiro acreditei vir de algum marujo que em um acesso de loucura, vendo que morreria, começara a rir. Isso ate ver a silhueta demoníaca em meio as chamas ardentes. 
 Um ser, que deveria ter pelo menos 3,0 metros, com longos chifres e um tridente em mãos, se regozijava com o tormento em meio as chamas como se aquilo não o afetasse. E, como se não bastasse, começou a se dirigir em minha direção.

Por mais terrível que possa parecer mantive a mesma calma de quando, mais cedo, avaliava o galeão, o medo percorria toda a extensão do meu corpo, cada célula tremia, mas me mantive impávido. Com um sorriso sarcástico no rosto ele me chamou pelo nome e disse para acompanha-lo, por uma descida rente ao bordel que seguia margeando o mar. Imediatamente quando paramos acendi outro cigarro com o fogo que o demônio acendeu em um de seus dedos. 

_Pode parecer estranho mas sinto falta da maresia daqui_ disse o demonio com uma voz que me surpreendeu por aparentar mais humana do que esperava.

Vendo meu espanto ele sorriu:

_Afinal esperava que eu falasse a voz do inferno e você nunca mais dormisse? 

Ele se aproximou de mim e me pediu um cigarro, deu uma longa tragada e disse:

_Ótimo tabaco! A próxima vez que vier procurarei por ele. Então o que achas do meu divertimento?

Tremi de terror e respondi:

_Boa maneira de demonstrar força. Dei uma tragada mais forte e firmei o corpo.

_Todas as vezes em que preciso vir aqui isso é necessário. Claro que isso me é muito prazeroso, mas demanda muita energia e tempo, prefiro por meios mais sórdidos e eficazes. 

_O que fazes aqui afinal?_ criei coragem e perguntei.

_Procuro aquele que segue o caminho intrépido e a quem o medo é apenas uma lembrança de infância.

_Quem é você e o que quer?_perguntei.

_Eu sou aquele que carrega as más noticias a humanidade. Sou Mephisto, e você ira seguir o caminho do bravo, em caso contrario cederá aos caídos, esta é a palavra que vim lhe trazer.

Dizendo isso ele apagou o que restava do cigarro em sua própria mão e desapareceu para sempre. Terminei o meu próprio enquanto pensava naquilo que ele havia dito. Parti logo cedo na primeira fragata para Portugal. Desde então todos os anos no fim de outubro, quando as noites se tornam mais negras que o habitual, me recolho para o mar sozinho e enfrento todos os meus medos e todos os espectros do passado, pois o caminho do bravo só se conquista a unha. 



P.s.: como todos os contos da serie este também foi inspirado por um sonho, neste caso um pesadelo, que ate hoje ainda me faz tremer. Nós falamos e vemos filmes sobre demônios e pessoas pegando fogo a todo tempo, com naturalidade, mas quando sentimos o cheiro da carne queimada é aterrorizador. As vezes acho que meus sonhos são realistas demais, e possuem algumas coisas que eu nunca vivenciei, como os gritos de socorro e o cheiro de madeira velha queimando misturado ao de carne humana assada, enfim, isso são coisas para se conversar com um psicanalista. 
P.s.2: como sempre o conto foi escrito para ser lido acompanhado da musica.

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O atoa que escreveu isso tudo

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Tombstone city, Depois do fim do inferno, Antarctica
como vc já deve saber eu sou o cara mais atoa que eu conheço, logo eu tive q inventar alguma coisa pra passar o tempo, ai fiz essa merda, quem gostar bem, quem não gostar vai se fuder!