desespero...

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Aqui do outro lado tudo parece obscuro, mas eu ainda tenho esperancas de morrer...

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Série: Contos Oniricos

1 Ato - O alfaiate


Havia, em uma cidade grande, um alfaiate pouco conhecido. Ele era um velho senhor que tinha ficado famoso por suas produções incomuns. O velho Joe, como eles o chamavam, costurava vestimentas vivas, que se alimentavam de sentimentos. Algo certamente incomum, e obviamente difícil de acreditar.

Em um longo dia chuvoso decidi colocar a prova tal história. Esperei até o anoitecer para ir ao endereço conseguido a duras penas. Era uma pequena loja escondida em uma rua pouco conveniente, de difícil acesso em um bairro normalmente residencial. Ao chegar reparo que as luzes estavam acesas mas não havia ninguém aparentemente, foi quando o mais estranho ocorreu. De dentro da loja ouvi o velho senhor chamar pelo meu nome, com uma voz calma e compassada que só os idosos conseguem fazer. Nós conversamos longamente sobre o tempo e todo o resto de coisas inúteis, das quais se diz quando não se tem nada a dizer, ate ele me conduzir a parte aonde as roupas estavam. 

Primeiro me mandou tirar as minhas vestes, aquelas que estava agora, não entendi e questionei, ele só me apontou o espelho. De repente eu vestia roupas que eram muito maiores do que o meu tamanho, exageradamente maiores. "Eis ai a prova que você queria. Tuas vestes já estiveram aqui. Eu mesmo as fiz." disse o velho me rodeando e dando uma olhada no que elas haviam se tornado. Tentei retirar e não consegui, era como se uma força muito grande impedisse, velho Joe veio ao meu auxilio. Enquanto as vestes eram retiradas eu sentia como se retirasse minha própria pele, doeu a cada movimento, e quando me olhei no espelho eu vi aqueles tentáculos grudados em minha carne firmemente. "Essas são as vestes da ANGUSTIA, quando as vestiu pela primeira vez quase não coube em você rapaz.". Foi quando parei para pensar em quanto a angustia me alimentava nos últimos tempos, o quanto precisava dela, o quanto sentia prazer em possuí-la. As vestes haviam se alimentado tanto, e por tanto tempo, que se tornaram monstros simbiontes a minha existência. quando finalmente as retirei senti o maior alivio de toda a minha existência, o peso, a dor e todo o resto se foram. A vestes tinham uma cor cinza esverdeada, quase como a poluição, e estavam rotas, com uma palavra escrita em negrito nas costas: "DESESPERO". Gostei tanto da sensação de tirá-la que sai a vontade pelo atelier a procura de outras.

Logo de cara uma me chamou a atenção, um grande blazer negro como a morte, emanando um sentimento forte. Quando me aproximei levei um susto, na costura inferior havia uma etiqueta com meu nome, descrição e época. "Você usou este por muito tempo, vinha sempre para ajustar porque crescia muito rápido", "Esse blazer se alimenta de que, nobre senhor?", perguntei inocentemente, "De Ódio", disse o velho naturalmente. Então me lembrava que havia alimentado meus pesadelos com todo o ódio do mundo, pois assim eles frutificavam mais rápido, e a vida parecia menos difícil.Logo após uma segunda vestimenta me chamou a atenção. Era um casaco feito de ferro fundido, meio oxidado pelo tempo, mas ainda possuía aquela impressão pesada própria do metal. No casaco havia vários espinhos longos, tanto na parte externa, quanto na parte interna, quase como uma donzela de ferro, antigo instrumento de tortura. Nele estava soldado na parte traseira a palavra "FORÇA", quase como um grito de morte, assim como também possuía uma etiqueta com meu nome, então tive questionar ao velho: "E esta daqui, se alimenta de que?", foi quando ouvi a resposta que me pareceu mais certeira: "De Dor, meu jovem...de dor...".

Percorri noite adentro o atelier do velho Joe a procura de algo que, pelo menos, não tivesse uma etiqueta com meu nome, encontrando apenas duas: uma batina escura como a noite, com peças brilhantes como estrelas e um velho sobretudo bege, muito comum. "A batina se alimenta de Sonhos. É única, sem precedentes e a mais pesada de todas as vestimentas aqui, ninguém nunca conseguiu ergue-la para utilizar.", resolvi então que era uma questão de honra, peguei ela do cabide e logo após ela caiu no chão, e independente da força que fizesse não aparentava que iria mover. a duras penas consegui colocá-la de volta ao cabide. o que me custou minha coluna. Então só me restou o sobretudo. Quando finalmente vesti me senti como se sempre tivesse usado, e ficou tão bem que parecia que havia sido feita para mim. O velho se ergueu da cadeira e disse: "Este é o sobretudo do Sarcasmo. Ele nasceu para você assim como você nasceu para ele. Use o!". Me senti tão eufórico que sai as pressas sem pagar, quando sai pela porta acordei. 

Estava deitado numa esquina, na parede, aonde estava sendo a intimado a me retirar. estranhamente vestia o sobretudo bege do meu sonho. Do bolso interno retiro um maço de cigarros quase cheio, enquanto um chato grita que ali não era o meu lugar. Acendo calmamente meu cigarro e digo: "e por algum acaso o Sr. paga meu aluguel?", o velho quase urrou de fúria. Só me lembro de sair e pensar: "Quase consigo levantar o outro, ainda carrego ele para casa." e neste momento a batina do Sonho flutuava em sua estante...




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O atoa que escreveu isso tudo

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Tombstone city, Depois do fim do inferno, Antarctica
como vc já deve saber eu sou o cara mais atoa que eu conheço, logo eu tive q inventar alguma coisa pra passar o tempo, ai fiz essa merda, quem gostar bem, quem não gostar vai se fuder!